fonte: http://www.diantedotrono.com/blogdaana/2011/07/22/os-domingos-precisam-de-feriados/
autor: Rabino Nilton Bonder”
autor: Rabino Nilton Bonder”
“Os Domingos Precisam de Feriados
Toda sexta-feira à noite começa
o shabat para a tradição judaica. Shabat é o conceito que propõe
descanso ao final do ciclo semanal de produção, inspirado no descanso
divino, no sétimo dia da Criação.
Muito além de uma proposta trabalhista,
entendemos a pausa como fundamental para a saúde de tudo o que é vivo.
A noite é pausa, o inverno é pausa, mesmo a morte é
pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.
pausa. Onde não há pausa, a vida lentamente se extingue.
Para um mundo no qual funcionar 24
horas por dia parece não ser suficiente, onde o meio ambiente e a terra
imploram por uma folga, onde nós mesmos não suportamos mais a falta de
tempo, descansar se torna uma necessidade do planeta.
Hoje, o tempo de ‘pausa’ é preenchido por diversão e alienação. Lazer não é feito de descanso, mas de ocupações ‘para não nos ocuparmos’. A própria palavra entretenimento indica o desejo de não parar. E a incapacidade de parar é uma forma de depressão.
O mundo está deprimido e a indústria do entretenimento cresce nessas condições.
Nossas cidades se parecem cada vez mais com a Disneylândia. Longas
filas para aproveitar experiências pouco interativas. Fim de dia com
gosto de vazio. Um divertido que não é nem bom nem ruim. Dia pronto
para ser esquecido, não fossem as fotos e a memória de uma expectativa
frustrada que ninguém revela para não dar o gostinho ao próximo.
Entramos no milênio num mundo que é um
grande shopping. A Internet e a televisão não dormem. Não há mais
insônia solitária; solitário é quem dorme. As bolsas do Ocidente e do
Oriente se revezam fazendo do ganhar e perder, das informações e dos
rumores, atividade incessante. A CNN inventou um tempo linear que só
pode parar no fim.
Mas as paradas estão por toda a caminhada e por todo o processo. Sem acostamento, a vida parece fluir mais rápida e eficiente, mas ao custo fóbico de uma paisagem que passa. O futuro é tão rápido que se confunde com o presente. As
montanhas estão com olheiras, os rios precisam de um bom banho, as
cidades de uma cochilada, o mar de umas férias, o domingo de um feriado…
Nossos namorados querem ‘ficar’, trocando o ‘ser’ pelo ‘estar’. Saímos da escravidão do século XIX para o leasing do século XXI – um dia seremos nossos?
Quem tem tempo não é sério, quem não tem tempo é importante. Nunca fizemos tanto e realizamos tão pouco. Nunca tantos fizeram tanto por tão poucos…
Parar não é interromper. Muitas vezes
continuar é que é uma interrupção. O dia de não trabalhar não é o dia
de se distrair – literalmente, ficar desatento. É um dia de atenção, de
ser atencioso consigo e com sua vida. A
pergunta que as pessoas se fazem no descanso é ‘o que vamos fazer
hoje?’ – já marcada pela ansiedade. E sonhamos com uma longevidade de
120 anos, quando não sabemos o que fazer numa tarde de Domingo.
Quem ganha tempo, por definição, perde. Quem mata tempo, fere-se mortalmente. É este o grande ‘radical livre’ que envelhece nossa alegria – o sonho de fazer do tempo uma mercadoria.
Em tempos de novo milênio, vamos resgatar coisas que são milenares.
A pausa é que traz a surpresa e não o que vem depois. A pausa é que dá
sentido à caminhada. A prática espiritual deste milênio será viver as
pausas. Não haverá maior sábio do que aquele que souber quando algo
terminou e quando algo vai começar.
Afinal, por que o Criador descansou? Talvez porque, mais difícil do que iniciar um processo do nada, seja dá-lo como concluído.
Rabino Nilton Bonder”
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